quarta-feira, 16 de junho de 2010

O preservativo - 22


Estávamos no supermercado, eu e o Henrique. Como habitual, fiz as compras que precisava e dirigi-me à caixa para pagar, pelo que me coloquei numa fila, aguardando a minha vez. De repente, eis que vejo nos expositores da caixa onde estava, entre outras coisas, preservativos. E eu que andava há tanto tempo para comprá-los! Assim como assim, estava divorciada, sozinha, e não é que tivesse muito tempo para isso, nem sequer muitas oportunidades, mas nunca se sabe e o seguro morreu de velho. 

 

Já tinha ido à farmácia várias vezes, sem sucesso, pois não sabia como pedir e ficava sempre intimidada. Faltava-me sempre o à vontade suficiente para ultrapassar o preconceito e agora não tinha que pedir a ninguém, pois estavam mesmo diante dos meus olhos, era só dar um passo, esticar o braço e discretamente, ninguém perceberia nada. Ainda olhei à minha volta a ver se o ambiente estava calmo, a ver se o Henrique estava distraído e não só. Parecia que ninguém estava a olhar para mim. Além do mais, aquilo estava exposto, portanto, era só tirar e ninguém tinha nada com isso. 

 

Olhei bem para eles, ainda um pouco distante, e percebi que não era assim tão fácil, porque havia vários tamanhos, etc... Bom, novamente o impasse. Olhei, olhei, verifiquei mais uma vez se não havia muita assistência e num acto verdadeiramente corajoso, estiquei o braço e com a mão peguei naquela coisa, que coloquei de imediato nas minhas compras. Puf!... Tão simples e tão difícil. E chegou a minha vez na caixa.

 

 O Henrique, que nunca me ajudava naquela tarefa, nesse dia resolveu dar uma ajudinha à mãe. Assim, à medida que a empregada fazia o registo, ele pegava e guardava. Eu, que ainda não estava muito segura da minha compra dos preservativos, fui atrasando, pondo tudo à frente e deixando aquilo para trás, até que chegou a hora. Apetecia-me enterrar-me pelo chão abaixo ao ver aquilo deslizar na passadeira a olhos vistos, até chegar às mãos da empregada. Uma eternidade! Já me tinha arrependido da coragem que tinha tido. Agora não havia nada a fazer, mas finalmente foi liberado e pude respirar de alívio. Foi então que aconteceu um imprevisto.

 

Chegou às mãos do Henrique e o Henrique que nunca me ajudava com as compras, nesse dia resolveu ajudar e depois de todos os meus esforços para não dar nas vistas, pega, e em vez de guardar, observa e com o seu espírito aguçado de investigador e cientista, pergunta: "mãe, o que é isto?" 

 

Eu, que estava distraída a pagar, achando que estava a salvo, respondo sem olhar: "isto o quê?" "Olha": diz ele. Enquanto a rapariga acertava o pagamento, olho e que vejo? Ele, com os preservativos na mão, ingénuo, completamente a leste do paraíso. Rápida e energicamente disse, na minha voz de comando número um: "guarda". Mas ele não obedeceu e não se calava: "oh mãe, mas eu nunca vi isto, a mãe, antes, nunca comprou isto" e eu, furiosa da vida, depois de tanta luta pela discrição, só dizia: "guarda... guarda". Eu já gritava com ele, mas ele, persistente como só ele mesmo, continuava a querer saber o que raio era aquilo e não guardava no saco de maneira nenhuma.

 

E assim, todo o supermercado ficou a saber que eu comprei preservativos.

 

Isto é que é vida! - 21


O Thiago fez um almoço de convívio para a família e pediu para levarem doces e vinhos.

 

A Tathi resolveu então passar numa doçaria e comprar um bolo de chocolate para levar para casa do irmão.

 

Quando chegou à loja saiu do carro e a Tamy foi com ela. Entraram e a Tamy pediu à mãe para lhe comprar um chocolatinho.

 

Enquanto a mãe tratava de escolher o bolo, a Tamy, nos seus quatro aninhos acabados de fazer, sentou-se muito refastelada na cadeira de uma das mesas da doçaria, enquanto se deliciava com o chocolate e gritava para a mãe, que estava no balcão: "Isto é que é vida, né mamãe!"