Estávamos
no supermercado, eu e o Henrique. Como habitual, fiz as compras que precisava
e dirigi-me à caixa para pagar, pelo que me coloquei numa fila, aguardando
a minha vez. De repente, eis que vejo nos expositores da caixa onde estava,
entre outras coisas, preservativos. E eu que andava há tanto tempo para
comprá-los! Assim como assim, estava divorciada, sozinha, e não é que
tivesse muito tempo para isso, nem sequer muitas oportunidades, mas nunca se
sabe e o seguro morreu de velho.
Já
tinha ido à farmácia várias vezes, sem sucesso, pois não sabia como pedir e
ficava sempre intimidada. Faltava-me sempre o à vontade suficiente para
ultrapassar o preconceito e agora não tinha que pedir a ninguém, pois
estavam mesmo diante dos meus olhos, era só dar um passo, esticar o braço e
discretamente, ninguém perceberia nada. Ainda olhei à minha volta a ver se o
ambiente estava calmo, a ver se o Henrique estava distraído e não só. Parecia
que ninguém estava a olhar para mim. Além do mais, aquilo estava exposto,
portanto, era só tirar e ninguém tinha nada com isso.
Olhei
bem para eles, ainda um pouco distante, e percebi que não era assim tão fácil,
porque havia vários tamanhos, etc... Bom, novamente o impasse. Olhei, olhei,
verifiquei mais uma vez se não havia muita assistência e num acto
verdadeiramente corajoso, estiquei o braço e com a mão peguei naquela
coisa, que coloquei de imediato nas minhas compras. Puf!... Tão simples e tão
difícil. E chegou a minha vez na caixa.
O
Henrique, que nunca me ajudava naquela tarefa, nesse dia resolveu dar uma
ajudinha à mãe. Assim, à medida que a empregada fazia o registo, ele
pegava e guardava. Eu, que ainda não estava muito segura da minha compra dos
preservativos, fui atrasando, pondo tudo à frente e deixando aquilo para trás,
até que chegou a hora. Apetecia-me enterrar-me pelo chão abaixo ao ver
aquilo deslizar na passadeira a olhos vistos, até chegar às mãos da empregada.
Uma eternidade! Já me tinha arrependido da coragem que tinha tido. Agora não
havia nada a fazer, mas finalmente foi liberado e pude respirar
de alívio. Foi então que aconteceu um imprevisto.
Chegou
às mãos do Henrique e o Henrique que nunca me ajudava com as compras,
nesse dia resolveu ajudar e depois de todos os meus esforços para não dar
nas vistas, pega, e em vez de guardar, observa e com o seu espírito aguçado de
investigador e cientista, pergunta: "mãe, o que é isto?"
Eu,
que estava distraída a pagar, achando que estava a salvo, respondo sem olhar:
"isto o quê?" "Olha": diz ele. Enquanto a rapariga acertava
o pagamento, olho e que vejo? Ele, com os preservativos na mão, ingénuo,
completamente a leste do paraíso. Rápida e energicamente disse, na minha voz de
comando número um: "guarda". Mas ele não obedeceu e não se
calava: "oh mãe, mas eu nunca vi isto, a mãe, antes, nunca comprou
isto" e eu, furiosa da vida, depois de tanta luta pela discrição, só
dizia: "guarda... guarda". Eu já gritava com ele, mas ele,
persistente como só ele mesmo, continuava a querer saber o que raio era aquilo
e não guardava no saco de maneira nenhuma.
E assim, todo o supermercado ficou a saber que eu
comprei preservativos.