quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Beijinho - 37


Todas as crianças têm fases muito próprias, inerentes ao crescimento. Elas são as mais variadas e vão passando para dar lugar a outras. Assim, e por exemplo, a Sofia que nunca foi piegas, caía e levantava-se sozinha, independentemente de ter batido nalgum sítio, não se queixava, não chorava, voltava à brincadeira sem dar a menor importância. Mas, então, chegou finalmente na fase do "doidói". E por tudo e por nada é o dodói e com ele, o beijinho mágico que cura todos os "doidóis" do mundo... ou quase todos.

 

A mãe estava a mudar-lhe uma fralda, porque ela já faz xixi no bacio, mas cocó não. Não gosta de ver, não gosta do cheiro, há ali qualquer coisa que a impede de aceitar que aquela coisa nojenta vem de dentro dela. Por isso, quando chega a altura, tem que pôr a fralda para fazer e tão depressa o faz, anuncia logo que já está, para se livrar daquilo logo de seguida, sem se fazer esperar.

 

Estava ela numa destas mudanças estratégicas de fralda, quando a mãe sem querer lhe deu uma cotovelada no tal do "pipi", como ela diz. Ela logo se queixou, alertando a mãe que a tinha magoado. A mãe disse-lhe que tinha sido sem querer e com a doçura de mãe, pediu-lhe muita desculpa e tal e coisa. A reacção da Sofia, porém, não se fez esperar:

 

- Descupa nãaaaaao...! Bêjiiinho...  (!?)



sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A casa do futuro - 36


É verdade, a minha pequena Sofia foi com os pais ao Museu das Telecomunicações e foi ver a Casa do Futuro.

 

Ao que parece, gostou muito e quando mais tarde lhe perguntaram onde tinha ido, ela que está habituada a ir sempre a casa de alguém e nunca a casa de ninguém, onde o sujeito é indeterminado, prontamente respondeu:

 

- "À caja do sinhô Futuro" (!)



domingo, 3 de novembro de 2013

As pantufas - 35


A Tânia estava a despir a Sofia para o banho que já estava preparado, com a espuma a transbordar da banheira. E depois da fralda que era a última peça, pegou nela para a meter na banheira.

 

Estranhamente, a pequena Sofia começou a barafustar e a recusar o banho. Não queria de maneira nenhuma entrar no banho. Dizia "nhão, nhão... mamã nhão, nhão, banho nhão", sempre chorando e esperneando.

 

A Tânia estranhou muito aquela reacção, pois desde o primeiro banho, ela adora a água e aquela hora é sempre muito relaxante para ela e muito bem apreciada. De modo que a Tânia não estava a entender nada.

 

Finalmente, mas contrariada e a muito custo, a Sofia entrou na banheira, com a mãe a tentar controlar a situação. E quando já estava distraída com os seus brinquedos do banho, no meio daquela espuma toda, eis que um pézinho vem à superfície e a Tânia vê a Sofia com as pantufas calçadas no banho...

 

Criança tem sempre razão!



Um fio de cabelo - 34


Estávamos sentadas no banco de trás do carro, eu e a Sofia, na sua cadeirinha obrigatória para crianças pequenas. O pai e a mãe à frente, íamos para o parque, para ela brincar um pouco até ao final da tarde, aproveitando o sol do Outono, sempre muito bem vindo.

 

Eu ia brincando com ela, porque é uma delícia a comunicação com as crianças, quando reparei que ela tinha um fio de cabelo num canto da sua linda boquinha. Tirei o cabelo e na frente dos meus olhos e dos dela, peguei nas extremidades, dizendo-lhe que era um cabelo dela. Então, ela olhou para mim com um ar solene e autoritário e com o minúsculo dedinho indicador esticado, que levou à cabeça, disse: "Põe..."

 

Percebi. Aquele cabelo tinha que voltar para a cabeça dela. Era lá o lugar dele. Fiquei a olhar para ela, com o fiozinho de cabelo na mão sem ter nenhuma reacção, mas cheia de vontade de rir, quando ela insistiu, dando a entender que eu não estava a obedecer à sua ordem. Levou o indicador novamente à cabeça e batendo várias vezes com o dedo no cabelo dela, voltou a ordenar "Põe"!... 

 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O Banco - 33


A Sofia que está com dois aninhos tem um mealheiro que esta avó lhe comprou quando era ainda muito pequenina. Lembro-me de que as primeiras moedas tinham que ser ajudadas, pois os minúsculos dedinhos ainda não tinham accionamento suficiente para conseguir sozinha acertar com as moedas na ranhura. Mas com a nossa ajuda, entre os nossos e os dedos dela, a coisa lá ia acontecendo. Com alguma ginástica e com mais ou menos tempo, as moedas acabavam encontrando o seu caminho até se ouvir o "tlim", no metal do mealheiro.

 

Presentemente, damos-lhe as moedas e ela lá vai a correr tirar o mealheiro que está num lugar certo, sendo que não precisa mais de ajuda nenhuma. Os dedinhos já estão super desenvoltos e é num instante que ela faz as moedas caírem lá dentro.

 

Também com o tempo as moedas foram tendo um percurso cada vez menor porque o mealheiro está quase cheio e dentro em pouco já não haverá espaço para mais.

 

Acontece que eu já tinha dito à Tânia que quando estivesse cheio se abrisse para comprarem algo para ela, e eu compraria outro mealheiro para substituir aquele, mas a Tânia disse que ela não precisava de nada e preferia pôr no Banco, o que achei uma óptima ideia.

 

Assim, um dia destes, cheguei lá a casa e pouco depois chamei a pequena Sofia, dando-lhe três moedas de euro para o mealheiro. Entretanto, a mãe também lhe deu mais uma e lá foi ela ligeirinha buscar o mealheiro para introduzir as moedas, o que fez num ápice. Pelo tilintar percebi que estava já cheio e disse-lhe que estava na altura de pedir à mamã para pôr o dinheiro que estava dentro do mealheiro no banco, para ela ficar com "muito dinheiro".

 

A Sofia já tem a noção de que as coisas são adquiridas com dinheiro. Já percebeu que, se quer alguma coisa, tem que comprar e para comprar é preciso dinheiro. E como eu lhe disse que a mamã ia por no Banco para ficar com mais dinheiro, não perdeu tempo. Foi a correr ter com a mãe, com o mealheiro nas mãos, a quem o entregou. Com a mãe a segurar o mealheiro, tirou a cadeirinha minúscula onde se costuma sentar para desenhar e pintar e fazer outras coisas, na sua mesinha igualmente minúscula, própria para crianças daquela idade. Puxou um banquinho do tamanho da cadeira, arrastou para fora da mesa, olhou para a mãe e disse: "mamã, põe no banco"... (!)