Mehemet tem agora cinco aninhos.
Já anda na pré-escola e também já se faz entender bastante bem em Português.
Cheguei perto dele, que estava a
comer pipocas, uma atrás da outra e perguntei se podia tirar uma. Fez que sim
com a cabeça, esticando-me o pacote. Depois perguntei se podia tirar duas.
Disse que sim, sem dúvidas, e muito solto. Depois perguntei se podia tirar
três. Continuou dizendo que sim, não só de viva voz, mas também pela expressão
e especialmente com o olhar, afirmativo e convicto.
Mehemet é uma criança adorável.
Parece um boneco. Muito genuíno e de uma espontaneidade impressionante. Um
vendaval de emoções, porque quando é meiguinho, é de partir o coração, mas quando
é o contrário, é um perfeito diabinho. Contudo, o seu doce coração sempre leva
a melhor.
Depois de me ter autorizado a
tirar as três pipocas, não resisti a fazer uma brincadeira para ver a sua reação.
Por isso perguntei uma vez mais, elevando propositadamente a fasquia, se podia
tirar dez.
Mehemet deu um passo atrás e
olhando para mim, com uma expressão de total espanto estampado por todo o seu
visual e perfeitamente espelhado no seu olhar, a contrapor a sua voz doce e
suave, de tom baixo e bem tranquilo, demonstrava a sua imensa indignação pelo
meu inesperado abuso, abanando a cabeça para dizer sem sombra de dúvidas e numa
palavra só, determinado e sem a menor possibilidade de retrocesso, um muito bem
pronunciado e prolongado: “Nãaaaao!?”…