quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O ginásio - 58


Estava eu em conversa no Skype com a minha neta Sofia que começou a fazer ginástica a sério há pouco tempo, quando decidi dar-lhe a novidade de que também me tinha inscrito num ginásio perto de casa e estava a gostar muito. Então ela perguntou o que é que eu fazia no ginásio. Disse-lhe que tinha andado na passadeira quinze minutos e ela logo se manifestou:

 

- Andar? Mas tu já sabes andar? Andas na rua, para que é que vais para o ginásio “andar”?!

 

Fiquei sem resposta, mas logo me esforcei para lhe explicar que “andar” no ginásio não é a mesma coisa e falei das máquinas e para que servem, etc. E de repente Sofia respondeu:

 

- Ah, já sei, é ginástica para velhos!

 

Na semana seguinte, logo que apareceu no skype começou a fazer cambalhotas muito difíceis para que eu pudesse apreciar as novas habilidades dela nas suas aulas de ginástica. Então perguntei-lhe se continuava a gostar das aulas e ela respondeu que sim. De seguida quis saber se eu continuava a ir ao meu ginásio e respondei-lhe que sim. Perguntou se eu também dava cambalhotas e, rindo, respondi que não. Porquê? Porque a avó não tem idade para cambalhotas, expliquei eu. E fazes "rodas", perguntou novamente. Rodas? Também não. Sofia, respondeu então:

 

- "Grande seeeeeca!"...

 

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

"Boring" - 57


Sofia sabe a história do nascimento dos bebés do jeito dela e tem a sua opinião sobre o assunto.

Estando de conversa com a mãe e as avós acerca do seu nascimento, ela acha muito bonito e muito interessante o papel da mãe, que recebe do pai uma sementinha e dentro de si a faz crescer, desenvolvendo-se durante um período de nove meses, para finalmente sair prontinha, deliciando-se com a ideia de ter passado por essa experiência, pelo que até acarinha a mãe num gesto delicioso de gratidão e amor.

Porém, quando se fala no papel do pai, que pôs a sementinha na mãe, ela faz saber o seguinte:

- Oh, não, o pai só pôs a sementinha e isso é muito “boring”!... (?)


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Os mortos - 56


Sofia seguia no seu próprio assento no banco detrás do meu carro enquanto eu a levava a casa, depois de ter passado com ela algum tempo num parque infantil.

A conversa foi parar aos mortos, nomeadamente o avô Armando e outros familiares que já faleceram. Arrematando a conversa, resolvi dizer que estavam todos no céu. Sofia começou a ficar muito agitada, contrariando-me e dizendo “o céu… isso não existe”!

Pensei que tinha ouvido mal, mas ela continuou barafustando e eu, apontando para cima, perguntei-lhe se aquilo azul era ou não o céu. Ela respondeu que sim, mas que os mortos não iam para ali, iam para o cemitério.

Bom, depois de uma argolada destas, por momentos fiquei sem palavras. Foi o suficiente para ela ganhar terreno e continuar as suas sentenças:

- Isso não existe, se queres acreditar nisso, acredita, “dahaaaaa”… (!)


Beijooooooo - 55


A avó Filu tinha acabado de receber uma mensagem de um amigo, onde se podia ler “beijooooooo”, apenas isso e comentou com a Tânia (filha), o que tinha acabado de receber.

Sofia, que fez recentemente seis anos, correu para a avó a fim de inspecionar a dita mensagem no telemóvel e tendo visto o que a avó acabara de mencionar, logo tratou de fazer os seus reparos. Que uma mensagem não deve ser assim, deve dizer mais coisas e ter mais palavras.

A avó Filu achou por bem o reparo da sua neta querida e aproveitou para dizer que ela tinha razão e, portanto, nem se ia dar ao trabalho de responder.

Por sua vez, a Tânia, interveio para dizer que não, que a mãe deveria no mínimo agradecer. Então a avó Filu decidiu que responderia apenas com um “obrigado”. Sofia não se fez esperar e mais uma vez aconselhou a avó como responder devidamente à mensagem do beijooooooo:

- Então responde “obrigadooooooo”.


terça-feira, 25 de julho de 2017

A chegada do Pai Natal - 54


Sofia tinha ido para a cama a muito custo. Não queria dormir. Mas já passava da hora dela. Chamou a mãe vezes sem conta. Falava sozinha, fazia barulho e os pais já estavam cansados por ela não sossegar. Naquela noite lembrou-se que queria a luz da casa de banho acesa. Depois, já era a luz da cozinha. O facto é que não sossegava de jeito nenhum. De repente lembrei-me de lhe dizer umas palavras mágicas que resultaram na perfeição. Foi tiro e queda. Disse-lhe que faltava pouco para o Natal e como NY era uma cidade muito grande, o pai Natal já devia andar por aí...


Ela levantou a cabeça para ouvir melhor o que lhe estava a dizer, pois se era sobre o Natal, a conversa era importante, por isso, logo perguntou com uma interjeição "hum"? Continuei, dizendo-lhe que se o Pai Natal já andava por aí, era melhor apagar as luzes, assim, mesmo que ela não estivesse a dormir, ele pensaria que sim.

 

E de repente fui bruscamente interrompida por uma vozinha aflita, dizendo energicamente: "Ai, apaga, apaga!"

 

Apaguei as luzes e em cinco minutos a Sofia dormia que nem um anjo.

 

No outro dia quando a mãe perguntou o que se tinha passado que, de repente, sem mais nem menos, tinham deixado de a ouvir, a Sofia olhou para a mãe e respondeu: eu dumi. O pai Natal passou aqui na janela! 


Dani - 53


Eu estava de olho na criançada, enquanto estávamos todos na gelataria, desfrutando de sabores os mais variados, numa noite de calor.

 

Dani estava sentado no parapeito de pedra exterior da montra de uma loja, dando cabeçadas no vidro, pelo que a certa altura a senhora veio cá fora e disse-lhe qualquer coisa que não entendi, achando por bem intervir. 

 

Aproximei-me dele e disse-lhe que não podia dar cabeçadas no vidro porque podia parti-lo e ainda ficar magoado. Dani olhou para mim com o narizinho malandro empinado e com a sua carinha de desenho animado, olhos grandes e pestanudos, respondeu:

 

- "Já di e magoei-me".