segunda-feira, 29 de março de 2010

Na gravidez muda a côr - 16


Eu estava sem carro que, por qualquer razão, estava na oficina. O Luis e a Eunice moravam para os nossos lados e deram-nos boleia. A Eunice estava grávida de sete meses do segundo filho. O Henrique ia sentado no banco de trás ao pé de mim e começámos a falar da gravidez dela.

 

Ela era Cabo Verdiana por parte da mãe, portanto, não tinha a pele completamente branca. O tom de pele era de Cabo Verdiana. O Henrique, olhava para ela e para a barriga, com grande insistência. Ele deveria ter uns seis anos nessa altura e claro, já tinha visto mulheres grávidas, mas nunca tinha dado tanta atenção e talvez nunca tivesse estado tão perto. Quis tocar na barriga dela e o ar dele era de admiração. O facto é que havia qualquer coisa que o intrigava. Via-se na fisionomia dele. Mas não me passava pela cabeça o que poderia ser.

 

No dia seguinte, estávamo-nos a vestir e a preparar para começar um novo dia, quando ele me fez a seguinte pergunta: "quando a mãe estava grávida de mim, a mãe mudou de cor?"

 

Parei para pensar na pergunta, que aparentemente não fazia sentido. Além disso, estava habituada à sensatez e à coerência dele em tudo. Era uma criança precoce e tinha um entendimento muito avançado. Segundo a médica, havia um desfasamento de dois anos para mais o que, com o passar dos anos, deixaria de ser significativo e eu entendia isso perfeitamente. Todas as perguntas que ele nos fazia tinham razão de ser, tinham lógica, eram ponderadas. Mas aquilo saiu assim de um jeito que me deixou desconsertada e até meio irritada, por isso, respondi-lhe um pouco secamente, que não entendia a pergunta. Disse-lhe que ele não costumava fazer perguntas tontas, que as pessoas não mudam de cor, são sempre como são e quis que ele explicasse porque fazia semelhante pergunta. Ele, coitado, não se desmanchou. Provavelmente ele próprio achava estranho, mas naquela cabecinha havia uma questão pertinente e continuou: "é que, no anúncio, diz que muda a cor!"

 

Ouvi o que ele disse e fiquei novamente desconsertada. A coisa não se estava a compor, achava eu. No anúncio diz que muda a côr? Perguntei então: qual anúncio? Respondeu, com ar sério e humilde "da televisão...". Da televisão? Pensei - publicidade. Como eu continuava parada a olhar para ele, enquanto procurava equacionar os dados, ele continuou: "sim, no anúncio diz - se estiveres grávida muda a côr".... 

 

Mentalmente revi o anúncio do teste da gravidez, onde a menina dizia realmente: "se estiveres grávida muda a côr" - a côr da palheta do teste. Voltei atrás, à primeira pergunta dele, que relacionei com a seguinte e começou a fazer-se luz.

 

Ele associou a mudança da côr, à côr da pele, pelo facto de ela ser Cabo Verdiana e não à côr do teste, cujo pormenor ele desconhecia. Ele só sabia que mudava a côr e a Eunice realmente tinha uma côr diferente!


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