Era
Verão e estávamos de férias nos Açores. Como habituamente, passávamos com
frequência na Delegação da RTP para ver os colegas e pôr em dia as novidades.
O
Estúdio estava vazio e fomos para lá conversar, para não incomodar quem estava
a trabalhar. Tinha acabado o Jornal da Tarde e em cima da mesa onde ficava o
pivot estava uma folha de alinhamento de emissão ou qualquer coisa do
tipo. O Henrique tinha nessa altura quatro anos e estava divertido a ver tudo.
A
páginas tantas resolveu sentar-se na cadeira do pivot. O monitor ainda estava
ligado à central, mas apenas em circuito interno. Viu-se no écran e achou
graça. Começou a fingir que era o jornalista e gostou da brincadeira de se ver
no televisor.
Para ver a reacção dele, o pai lembrou-se de lhe dizer que as
pessoas em casa estavam a vê-lo. Ele ficou apavorado mas, se estavam a vê-lo,
não podia dar o flanco. Continuou a olhar para o écran e entre dentes perguntou
se era mesmo verdade que estava a aparecer em casa das pessoas. O pai, com ar
sério, respondeu que sim, pedindo-lhe para ter cuidado com o que dizia e fazia.
O coitado ficou aterrado, mas lá se aguentou como pôde, mas tinha que sair
de cena, fosse como fosse.
E sem se fazer esperar, não quis saber de mais nada. Pegou na
folha do alinhamento que estava em cima da mesa e devagarinho foi escondendo o
rosto por trás da folha de papel, à medida que ia descendo e escorregando pela
cadeira abaixo, até desaparecer por baixo da secretária. Estava a salvo.
Aparecer em casa de toda a gente, isso é que não!
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