quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A anedota - 7


O Henrique ouvia-nos muitas vezes contar anedotas. Quando nos reuníamos com os amigos era uma maneira de extravasar, convivendo com uma certa dose de boa disposição. Nesses convívios as crianças ficavam por ali, na vida deles, entretidos uns com os outros.

 

Um dia, sem mais nem menos, ele disse-me: "mãe... a mãe pode-me contar uma anedota?" E eu pensei, uma anedota? Na noite anterior tínhamos estado a contar anedotas. Era isso, queria que lhe contasse uma, só que todas as anedotas eram muito complicadas para ele entender. Mas ele queria que lhe contasse uma anedota. Comecei a pensar no que é que lhe ia contar para ele perceber. Não me lembrava de nada e disse-lhe que era tudo muito complicado e ele não ia entender. Mas ele respondeu muito convicto: "não, a mãe conta, conta que eu percebo". Estou tramada, pensei, enquanto me veio à ideia uma mais leve, que ainda assim era complexa para ele, mas com a insistência não tive alternativa e comecei a contar devagar, para o caso de ele não entender alguma coisa e querer perguntar, como sempre fazia contudo.

 

Ia assim, contando devagarinho e duas vezes parei e perguntei se ele estava a entender, porque o semblante era sério, não transparecia nada. Mas ele dizia que sim, para eu continuar. Às tantas tive que interromper por causa de qualquer coisa que estava a fazer e ele perguntou: "já acabou?" Respondi que não e ele ficou à espera. Continuei contando o resto e parei. Ele esperou uns escassos segundos e vendo que eu tinha acabado de falar perguntou: "a mãe já acabou?" Respondi que sim.

 

Então ele olhou para mim e começou a rir, mas um riso de dever, ou seja, tinha acabado a anedota e ele sabia que estava na altura de rir. Olhava para mim e ria ah, ah, ah, mas um rir tão esforçado! Missão cumprida com aquele riso. Estava a agir como os adultos. Era isso que importava.

 

Quem riu depois com gosto fui eu, mas não ao pé dele. E pronto, foi assim a primeira anedota do Henrique.

 

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