O
Henrique ouvia-nos muitas vezes contar anedotas. Quando nos reuníamos com os
amigos era uma maneira de extravasar, convivendo com uma certa dose de boa
disposição. Nesses convívios as crianças ficavam por ali, na vida deles,
entretidos uns com os outros.
Um
dia, sem mais nem menos, ele disse-me: "mãe... a mãe pode-me contar
uma anedota?" E eu pensei, uma anedota? Na noite anterior tínhamos
estado a contar anedotas. Era isso, queria que lhe contasse uma, só
que todas as anedotas eram muito complicadas para ele entender. Mas
ele queria que lhe contasse uma anedota. Comecei a pensar
no que é que lhe ia contar para ele perceber. Não me lembrava de
nada e disse-lhe que era tudo muito complicado e ele não ia entender. Mas ele
respondeu muito convicto: "não, a mãe conta, conta que eu
percebo". Estou tramada,
pensei, enquanto me veio à ideia uma mais leve, que ainda assim
era complexa para ele, mas com a insistência não tive alternativa e comecei a
contar devagar, para o caso de ele não entender alguma coisa e
querer perguntar, como sempre fazia contudo.
Ia
assim, contando devagarinho e duas vezes parei e perguntei se ele estava a
entender, porque o semblante era sério, não transparecia nada. Mas ele
dizia que sim, para eu continuar. Às tantas tive que interromper por causa de
qualquer coisa que estava a fazer e ele perguntou: "já
acabou?" Respondi que não e ele ficou à espera. Continuei contando
o resto e parei. Ele esperou uns escassos segundos e vendo que eu tinha acabado
de falar perguntou: "a mãe já acabou?" Respondi que sim.
Então
ele olhou para mim e começou a rir, mas um riso de dever, ou seja, tinha
acabado a anedota e ele sabia que estava na altura de rir. Olhava para mim e
ria ah, ah, ah, mas um rir tão esforçado! Missão cumprida com aquele riso.
Estava a agir como os adultos. Era isso que importava.
Quem riu depois com gosto fui eu, mas não ao pé dele. E
pronto, foi assim a primeira anedota do Henrique.
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