quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O Miguel - 3


A minha irmã e eu não somos muito parecidas, contudo, existem semelhanças que para uns são muito evidentes e para outros não.

 

O Miguel nasceu e assim que começou a ser "gente" e a emitir sons, começaram a ensinar-lhe os nomes da família. Ele aprendia e reconhecia todos com muita facilidade, mas os nossos nomes, trocava sempre. Quando me via, dizia que era a Guida e quando via a Guida dizia que era a Lili. Por mais que o emendassem, trocava sempre. Era quase um desafio, porque estávamos sempre à espera que acertasse, mas isso não acontecia, nem ninguém nunca pensou no porquê daquela troca que afinal tinha a sua razão de ser.

 

No dia do octogésimo aniversário do avô, que reuniu a família toda, ele viu as duas juntas pela primeira vez. Perguntaram-lhe os nossos nomes e ele olhava para uma e olhava para outra, primeiro com um ar intrigado, depois a expressão descontraiu e começou a rir e ria, ria, ria muito...

 

É que ele finalmente percebeu que haviam duas e entendeu a sua confusão. De facto, ele nunca nos tinha visto juntas, porque vivemos longe uma da outra e só nos reunimos todos em ocasiões especiais. Nesse dia ele percebeu a confusão e nós também, claro. A expressão do seu riso traduzia exactamente o engano e ria como que a gozar com ele mesmo, como se nos dissesse "afinal eram duas, queriam-me enganar!"

 

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